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"EM MEMÓRIA DELE: ALIANÇA, UNIDADE E ESPERANÇA" | Pr. Patrick Ribeiro




TEMA: "EM MEMÓRIA DELE: ALIANÇA, UNIDADE E ESPERANÇA"

 TEXTO BASE: 1 Coríntios 11:23-26 (NVI)

MINISTRO: PR. PATRICK RIBEIRO

 

INTRODUÇÃO:

Imagine que você encontra uma carta antiga, escrita por alguém que amou você profundamente, mas que partiu há muito tempo. A letra está gasta, as palavras são emocionantes, e cada frase parece trazer à tona lembranças, lágrimas e gratidão.

Você lê aquela carta sempre que sente saudade, e cada vez que a lê, seu coração se enche de amor — não porque o papel seja especial, mas porque quem escreveu marcou sua vida para sempre.


Participar da Santa Ceia é como abrir essa carta sagrada. É o momento em que a igreja se senta à mesa com Jesus para reler com os olhos da fé a mensagem mais poderosa que já nos foi escrita:

“Isto é o meu corpo, dado por vocês. Este é o meu sangue, derramado por vocês.”


Mas será que temos tido esse mesmo sentimento quando nos preparamos para santa ceia?

Infelizmente, muitos crentes hoje olham para a mesa da Ceia com a mesma frieza com que se olha um papel velho:

·        Como se fosse apenas mais uma liturgia...

·        Como se fosse apenas uma tradição religiosa...


A Ceia do Senhor é muito mais do que isso. É memória viva, aliança renovada, esperança fortalecida.

Vamos ao texto de 1 Coríntios 11:23-26, onde o apóstolo Paulo nos entrega aquilo que ele mesmo recebeu do Senhor:

“Pois recebi do Senhor o que também lhes entreguei...” (v. 23)


Esse texto não nasce num contexto ideal. Pelo contrário, Paulo está escrevendo à igreja de Corinto — uma igreja marcada por dons espirituais (1 Co 1:7), mas também por divisões, imaturidade e irreverência.


Na verdade, os versículos anteriores (1 Co 11:17-22) mostram que havia desrespeito, egoísmo e falta de discernimento ao participarem da Ceia. Era como se o momento mais sagrado tivesse sido transformado em um banquete social e competitivo.

 

·        Uns comiam demais, outros passavam fome.

·        Uns se exaltavam, outros eram envergonhados.


Diante disso, Paulo os leva de volta ao início da Ceia, à noite em que Jesus foi traído. Repare nisso:

“Na noite em que foi traído, tomou o pão...” (v. 23b)


É no momento de maior dor e rejeição, que Jesus escolhe deixar um memorial de amor e perdão. Ele não amaldiçoa Judas. Ele não lamenta seu sofrimento. Ele parte o pão e compartilha a aliança.


Essa exortação de Paulo carrega um peso:

  • Não estamos lidando com um pão qualquer.

  • Não estamos tomando um suco qualquer.

  • Estamos entrando em contato com o que há de mais sagrado: a memória da cruz.


Por isso, hoje refletiremos sobre três verdades que a Santa Ceia nos traz:

1.   Ela é memória da aliança: nos lembra que fomos comprados por um alto preço.

2.   Ela é símbolo da unidade: nos chama a discernir e amar o corpo de Cristo.

3.   Ela é anúncio da esperança: nos aponta para a volta gloriosa do Senhor.

Ao participarmos da Ceia hoje, não faremos um ritual vazio, mas um ato vivo de fé. Porque quando o pão é partido e o cálice é levantado, o céu nos relembra:

·        A aliança está de pé.

·        A graça ainda nos alcança.

·        E o Noivo está voltando.


1. A CEIA É MEMÓRIA DA ALIANÇA (V. 24-25)

"E, tendo dado graças, partiu o pão e disse: 'Isto é o meu corpo, que é dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim.'" – 1 Coríntios 11:24 (NVI)


  • Jesus institui a Ceia como um memorial eterno de Sua entrega.

A Santa Ceia foi instituída por Jesus na noite da Sua traição (Lucas 22:19-20), como uma prática memorial, não apenas um símbolo ritualístico, mas uma revisitação espiritual ao Calvário. É o ato pelo qual a igreja volta os olhos para o sacrifício de Cristo e reafirma sua pertença à Nova Aliança.

 

Hebreus 9:15 reforça:

“Por isso Cristo é o mediador de uma nova aliança, para os que são chamados recebam a promessa da herança eterna...”

No Antigo Testamento, alianças eram seladas com sangue (Êxodo 24:8), e na Ceia, Jesus declara:

“Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês.” – Lucas 22:20 (NVI)


Essa nova aliança é superior à antiga (Hebreus 8:6), pois não depende de sacrifícios repetidos, mas do sacrifício perfeito e definitivo de Cristo (Hebreus 10:10).


“Cristo é a cabeça da nova aliança; n’Ele se cumprem todas as promessas de Deus.”

Agostinho de Hipona


  • O pão e o cálice representam o corpo partido e o sangue derramado – a nova aliança (Hebreus 9:15).



Em nossos dias, há um risco constante de banalização dos símbolos da fé. O que deveria ser um momento de profunda reflexão, em muitos contextos tem se tornado apenas um ato religioso ou rotineiro, sem consciência espiritual.

Assim como nos dias da igreja de Corinto, onde Paulo censura a forma indigna de participação (1Coríntios11:27-30), muitos hoje participam sem discernir o corpo e o sangue do Senhor, sem gratidão e sem reverência.


“Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.”

 Mateus 15:8 (NVI)


A Ceia nos confronta: estamos vivendo de acordo com a aliança que dizemos celebrar?

A Nova Aliança exige um coração transformado, não apenas um rito mantido.

 Dietrich Bonhoeffer“A graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, é a ceia do Senhor sem confissão dos pecados.”


A Ceia é um lembrete de que fomos comprados por um alto preço (1 Coríntios 6:20). Ao lembrar da aliança, reafirmamos que somos um povo separado por Deus, chamados a viver como filhos da luz (Efésios 5:8).


“Lembrem-se de que vocês estavam separados de Cristo... mas agora foram aproximados mediante o sangue de Cristo.” – Efésios 2:12-13 (NVI)


 “Toda vez que participamos da Ceia com fé e reverência, é como se estivéssemos novamente aos pés da cruz, dizendo: ‘Senhor, estou contigo na aliança que o Teu sangue selou.”


2. A CEIA É SINAL DE UNIDADE (V. 17-22, 33-34)


O apóstolo Paulo repreende severamente os crentes de Corinto porque, ao se reunirem para a Ceia, eles se dividiam ainda mais (v. 18). A celebração que deveria evidenciar o amor fraternal se transformava num palco de egoísmo e desigualdade. Alguns se apressavam a comer, outros passavam fome, e outros ainda se embriagavam — cada um por si, sem discernir o corpo (v. 21-22, 29).


“Portanto, meus irmãos, quando vocês se reunirem para comer, esperem uns pelos outros.” – 1 Coríntios 11:33 (NVI)


Paulo destaca que não basta estar presente fisicamente, é preciso estar unido espiritualmente e emocionalmente, pois a Ceia é partilhada entre irmãos e com o Senhor.


Em João 17:21, Jesus ora:

“Minha oração é que todos sejam um, como Tu estás em mim, e Eu em Ti.”

Essa unidade desejada por Cristo não é uniformidade externa, mas comunhão profunda de coração. A Ceia evidencia que somos um só corpo em Cristo (1 Coríntios 10:17).


Atos 2:42 mostra que desde a igreja primitiva:

“Eles se dedicavam... à comunhão, ao partir do pão...”

A Ceia sempre foi um símbolo e prática da vida comunitária, inseparável da comunhão com os irmãos.

 

Na igreja contemporânea, vivemos o paradoxo da multidão presente e da comunhão ausente. Estamos fisicamente próximos nos bancos, mas emocionalmente e espiritualmente distantes uns dos outros.

Vivemos:

  • Relações superficiais.

  • Mágoas não resolvidas.

  • Orgulho que impede o perdão.

  • Inveja disfarçada de silêncio.

E então chegamos à Ceia... como se tudo estivesse bem.

Mas a Ceia do Senhor nos confronta com o outro, pois o pão é repartido, o cálice é compartilhado, e o corpo é coletivo.

(John Stott)“A Ceia é a afirmação de que Cristo morreu não apenas por mim, mas por nós.”



Examine sua vida e seus relacionamentos.

Está em paz com seus irmãos?

Há alguém que você evita?

Está com o coração livre do orgulho, da amargura, da competição?


A Ceia nos desafia a superar divisões, reconciliar corações e celebrar o que nos une: o sangue de Jesus.

“Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odiar seu irmão, é mentiroso.” – 1 João 4:20

 

“A Ceia nos lembra que Cristo morreu para nos reconciliar com Deus e nos reconciliar uns com os outros. Participar divididos é negar o próprio sentido do pão partido.”

3. A CEIA É ESPERANÇA VIVA

Porque sempre que comerem deste pão e beberem deste cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que Ele venha.” – 1 Coríntios 11:26 (NVI)


Ao dizer “até que Ele venha”, Paulo nos conduz além do memorial e nos faz olhar para a promessa futura. A Ceia não é apenas um olhar para trás, mas também um ensaio para o grande encontro.


A Ceia é escatológica: ela olha para a cruz (redenção), para o agora (comunhão), e para a eternidade (glorificação).


Apocalipse 19:9 ecoa essa esperança: “Felizes os convidados para o banquete das bodas do Cordeiro!”

Em João 14:3, Jesus promete: “Voltarei e os levarei para mim, para que vocês estejam onde eu estiver.”


Esses textos apontam para um futuro glorioso e certo, onde a Ceia temporária da terra será substituída pelo grande banquete eterno no céu.


 (Charles Spurgeon):A Ceia é a sombra do banquete vindouro. Se a sombra é tão doce, que será o encontro com o Noivo?”


Vivemos dias em que muitos cristãos estão sobrecarregados, ansiosos, frustrados ou desanimados. A dor das perdas, os conflitos sociais, a cultura da pressa e a incerteza do amanhã têm apagado a chama da esperança em muitos corações.

A Ceia, nesse contexto, se torna um ato de resistência espiritual:

Quando partimos o pão e tomamos o cálice, proclamamos que o sofrimento não terá a última palavra. Reafirmamos: “Ele vem!”, e isso renova nosso ânimo, consola nossa dor e reacende nossa expectativa.


  • A Ceia é uma lembrança viva: Cristo veio, morreu, ressuscitou e voltará com glória.

  • É um combustível para a perseverança:

"Não desanime. Ainda que o corpo se desgaste, o espírito se renova, porque a glória futura não se compara às aflições presentes." (cf. 2 Coríntios 4:16-18)

  • É um convite à vigilância:

A Ceia nos faz perguntar: "Estou vivendo como quem espera o Noivo?"

“Aqueles que têm essa esperança purificam-se a si mesmos.” – 1 João 3:3

“A Ceia é o ensaio da eternidade. Cada pão partido e cálice levantado ecoa uma certeza: o Rei voltará, e estaremos para sempre com Ele.”

 

 

 CONCLUSÃO:


Hoje fomos conduzidos à mesa do Senhor e lembramos que:

  • Aliança: O pão e o cálice nos fazem lembrar do preço da nossa salvação — o corpo partido e o sangue derramado por nós. (1 Coríntios 11:24-25; Hebreus 9:15)

  • Unidade: Somos um só corpo. Não apenas participantes individuais, mas membros uns dos outros. A Ceia nos chama à reconciliação e ao perdão. (1 Coríntios 11:17-22; João 17:21)

  • Esperança: Ao tomar o pão e o cálice, anunciamos que o Rei voltará. A Ceia nos conecta ao Céu. (1 Coríntios 11:26; Apocalipse 19:9)

(Agostinho): “A Ceia é o pão da peregrinação, sustentando os que caminham para o lar eterno.”


“Examine-se cada um a si mesmo, e então coma do pão e beba do cálice.” – 1 Coríntios 11:28


Antes de nos aproximarmos da mesa, somos chamados a uma atitude de reverência, autoexame e contrição.

Este não é um momento para perfeitos, mas para sinceros. Não é para os que nunca caem, mas para os que se arrependem e se levantam pela graça.


“Ao nos assentarmos à mesa do Senhor, não olhamos apenas para o pão e o cálice, mas para o Salvador que está no centro da mesa, nos unindo, nos curando e nos esperando para o grande banquete eterno.”

 

 
 
 

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